Procuro, a todo instante, reagir a qualquer manifestação de desalento que possa me levar ao desânimo.
Quero pensar como Chico Buarque, nunca deixar de ter voz ativa, principalmente nos momentos em que seja preciso "ir contra a corrente, até não poder resistir". Enfrentar os medos, reagir contra as ameaças, quaisquer que sejam elas. Não perder nunca a oportunidade de tomar a iniciativa, desde que seja em favor da reversão de situações indesejadas.
Continuo me valendo dos conselhos de Chico quando diz “quem espera nunca alcança”. Porque “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, por orientação do conterrâneo Geraldo Vandré. Não permitir que se impeça “sonhar o sonho impossível”. Até porque não existem sonhos impossíveis, eles podem encontrar dificuldades para serem realizados, mas a força do querer pode vencer os obstáculos que se apresentarem no caminho.
Afinal de contas “não há dor que dure para sempre”. Tudo é temporário, efêmero, embora muitos queiram desmentir essa verdade da vida. “Nunca é tarde, nunca é demais”. A vasta ferida que a memória nos oferece serviu de motivação para o enfrentamento ao retrocesso, à involução. Vamos “desinventar” a tristeza e descartar essa página do nosso folhetim. “Fugindo ao contrário, sentimo-nos duas vezes mais velozes”. E energizados para fazer valer a disposição de sermos protagonistas das mudanças, renascendo sempre a “esperança de tudo se ajeitar”.
Mais do que desejar, é necessário construir um “tempo após um contratempo”. Não vale recuar, nem recolher fúrias. “Esse silêncio que nos atordoa", não pode fazer com que deixemos de "permanecer atentos”. Ainda que haja uma maioria calada, há de se levantar vozes que rompam esse emudecimento coletivo. Vamos pensar alto para que outros nos escutem. Não deixar que prevaleça o “grito contido”. É necessário acreditar que o inimigo não é invencível.
“Amanhã há de ser outro dia”, assim ficamos alimentados para nutrir a esperança de que dias melhores estão para acontecer. “Eu quero ver a paz, tristeza nunca mais”, o pesadelo tendo fim, o tempo do discurso de ódio já não exercendo tanta influência no inconsciente coletivo, o ambiente de beligerância, antes tão estimulada, ainda que persista entre os fanáticos, prestes a se findar. Queremos ver uma pátria onde nos confraternizemos, respeitando as divergências, mas não tratando adversários políticos como inimigos.
Rui Leitão