É difícil especular como um detalhe físico poderia ter efeito no curso da História da Humanidade. Não há nenhuma explicação adicional sobre essa assertiva. Ficamos, então, submetidos às circunstâncias causadas pelo “se”.
Porém, no exercício das conjecturas podemos entender que Pascal queria dizer que a beleza da projeção nasal da rainha representou o poder de sedução e manipulação sobre dois poderosos homens de Roma, Júlio César e Marco Antônio, que, por ela enfeitiçados, promoveram guerras civis que modificaram o curso da história romana.
Os historiadores estabelecem relações causais a fim de explicar os processos históricos. Podemos concluir que nada acontece por acaso. Tudo tem uma motivação. Suas narrativas abordam a questão da relação “causa” e “efeito”. Os acontecimentos que culminaram com a barbárie de 8 de janeiro do ano passado, foram provocados por conexões causais concretas. Pascal, na contemporaneidade, teria dito: “Se não fossem priclamados os discursos de ódio, repetidos à exaustão, a nossa história recente teria sido outra”. Desapareciam as probabilidades daquela ocorrência. Assim como o “nariz de Cleópatra”, os protagonistas daquele episódio que ameaçou matar a nossa democracia foram “enfeitiçados” e “manipulados” por ideias e pensamentos que contrariavam a lógica da ordem social e do s princípios fundamentais da democracia. Há um significado por trás de cada ato.
Tanto na alusão ao “nariz de Cleópatra”, quanto na retórica da violência que estimulou os atos antidemocráticos, percebe-se a influência da paixão e do fascínio pelo poder. Afinal de contas “o desejo de poder é a mais violenta paixão humana”. Cleópatra soube explorar bem isso. Os invasores da Praça dos Três Poderes, em Brasília, felizmente, não conseguiram tornar efetivas as mesmas intenções.
Está provado que a ambição pelo poder produz movimentos de confronto bélico, fazendo nascer uma patologia mental que provoca impacto nas relações sociais e políticas. Nas duas situações mencionadas neste texto, a prevalência da vontade absoluta torna os protagonistas da história escravos da paixão pela autocracia, seduzidos pelos interesses que naturalmente não seriam os seus. Lutadores da causa alheia.
Rui Leitão