As inverdades, com objetivos políticos, são propagadas por seres humanos robotizados, que não têm o cuidado de analisar o conteúdo das mensagens que recebem e se apressam em replicá-las. Essa potencial ferramenta para manipular debates nas redes sociais antes era colocada em prática com o uso de perfis automatizados. Atualmente não há mais a necessidade de assim procederem. Os robôs foram substituídos por pessoas que se disponibilizam a exercer a tarefa anteriormente atribuída às redes de robôs organizadas especialmente para essa finalidade.
Usuários humanos reais assumiram a incumbência de promover movimentações políticas que não correspondem com a verdade dos fatos, em desfavor da realização de debates construtivos, transparentes e plurais, sobre temas de interesse coletivo da sociedade. A automatização da comunicação em massa passou a ser feita por indivíduos que decidiram aderir a essa estratégia política, sem perceber que estão sendo programados para essa ação. Inocentes úteis digitais na tática do marketing político planejado se prestam ao serviço de divulgar notícias inexatas, com o propósito de alterar percepções da realidade. A intenção é causar um efeito manada, formando bolhas de opinião.
Essas pessoas robotizadas cumprem automaticamente a orientação de outras no uso da “inteligência artificial”, provocando polêmicas e contribuindo deliberadamente para que se instale um clima de beligerância social. Não se constrangem em serem identificados. São soldados cegos dispostos a tudo para alimentar teorias da conspiração, por mais absurdas que sejam.
É muito triste ver alguém abrir mão da faculdade de pensar por si próprio para defender ideias das quais nada entende, mas foi convencido a admiti-las como lógicas, racionais. Obedece resignadamente à vontade dos outros. Ouve o galo cantar, mas não sabe onde. Toma emprestados pensamentos alheios e os reproduz imediatamente na internet. Vive num sonambulismo autômato. A alienação da própria consciência em favor de aliciadores políticos.
Os seres humanos robotizados, por orientação de seus líderes, tentam transformar teorias em dogmas irrefutáveis. Agarram-se à nova verdade que lhes foi imposta, adotando uma mentalidade servil, submetidos às pressões de terceiros. Exercem militância política sem prévia reflexão. Comportam-se por estímulo de outros. Quando um grita, o outro repete. Acostumaram-se a fazer parte do “rebanho”.
Ao finalizar essa reflexão, transcrevo trecho de um discurso de Chaplin que vem bem a calhar sobre essa submissão mental a que muitos se sujeitam: “Soldados! Não se submetam aos brutos – homens que desprezam vocês – escravizam vocês – que controlam as suas vidas – que dizem a vocês o que fazer – o que pensar e o que sentir! Esses homens adestram vocês, impõem dietas, tratam vocês como se fossem gado, usam vocês como bucha de canhão. Não se submetam a esses homens antinaturais – homens-máquinas com mentes de máquinas e corações de máquinas! Vocês não são máquinas! Vocês não são gado! Vocês são homens! Vocês têm o amor da humanidade nos corações. Vocês não odeiam! Só os que não são amados odeiam – os n&at ilde;o amados e os antinaturais!”.
Rui Leitão