Preocupada com a possibilidade de prisão do seu líder maior, encontrou no discurso de Lula, proferido na Etiópia no domingo passado, a oportunidade de desviar a retórica golpista, com a ajuda da mídia tradicional, liderada pela Rede Globo. O ato público convocado para o dia 25, na Avenida Paulista, se fundamentará em uma nova narrativa, acusando Lula de antissemitismo e assim ganhar a adesão dos fanáticos religiosos.
É inquestionável que Lula é um pacifista. Tem sido uma voz corajosa contra o massacre que o primeiro ministro israelense vem impondo aos palestinos da Faixa de Gaza e na Cisjordânia. É equivocada a interpretação de que Lula tem lado nesse conflito. Tanto isso é verdade que, desde o início, tem declarado que o Hamas é sim um grupo terrorista e é indefensável o ataque que fez matando milhares de israelenses. No entanto, não há como justificar a reação do governo israelense, produzindo massacre de crianças, mulheres, idosos e civis, além de bombardeio de hospitais e escolas. Seu depoimento não deixa dúvidas quando afirma: "Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”.
Causa espanto ver pessoas que se dizem cristãs defendendo essa chacina. A verdade dita por Lula deveria receber a solidariedade dos que têm o sentimento de humanidade. Ele não falou em holocausto, nem se referiu de forma acusatória ao povo judeu. Atribuiu sim a responsabilidade direta pelo genocídio ao governo sionista de Netanyahu, e não ao povo que ele governa. Daí a comparação com Hiltler, pela crueldade praticada. A comunidade internacional entendeu o que ele quis dizer. O que Lula quer é o cessar fogo imediato e o estabelecimento do estado Palestino soberano. Afinal de contas, não se pode desconhecer que, em 2010, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o estado Palestino. É histórico o nosso compromisso com a causa.
O resto é uma tentativa de capitalizar politicamente com o episódio. Mas Lula deixou claro que o Brasil não compactua com ações de extermínio, partam de onde partirem. Pelo menos numa coisa podemos concordar com o extremista de direita que governa Israel quando diz: “Lula ultrapassou a linha vermelha”. Sim, passou além da linha vermelha causada pelo sangue derramado de milhares de pessoas inocentes. Se nega a percorrer caminhos sujos de sangue de crianças, mulheres e idosos que nada têm a ver com essa guerra.
RUI LEITÃO