Só assim se consegue alcançar uma tomada de consciência, fundamentada na análise de questionamentos que se tornam essenciais para melhor compreensão de um determinado fato com clareza. Ideias, argumentos e evidências sendo cuidadosamente avaliados de forma objetiva e isenta, na intenção de desenvolver a capacidade de formar as próprias opiniões e tomar decisões com base em sólidas informações.
Esse é um desafio que precisa ser enfrentado na contemporaneidade, despertando ideais para a sociedade em que esteja inserido. Paulo Freire já afirmava que “toda ação libertadora é necessariamente acompanhada de uma profunda reflexão”. Tomemos como exemplo o que aconteceu nos anos 60, mais precisamente em 1968, considerado “um ano mítico”, quando em diversos lugares do mundo afloraram propostas reformistas e revolucionárias. Movimentos sociais e lutas políticas foram incentivados, a partir do olhar crítico da realidade, no entendimento de que cada um tem o direito de escolher os caminhos da própria felicidade. No exercício da reflexão crítica é inaceitável que se alimente raiva de quem discorda de sua opinião, impondo um elitismo autoritário como se fosse dono da verdade. Escutar é uma prática democrática, desd e que saibamos discernir quando o interlocutor tem interesse em distorcer a percepção dos fatos, das coisas e dos acontecimentos.
A criticidade tem tudo a ver com a curiosidade, quando ambas convocam a imaginação e a capacidade de conjecturar, jamais admitindo o conformismo, mas abrindo oportunidades para pensar o futuro com perspectivas de mudanças. O tom de rebeldia faz nascer o espírito de enfrentamento de circunstanciais dificuldades, sem se contaminar pela resignação diante delas. Não há mudanças impossíveis, esse deve ser o ponto de estímulo para iniciar jornadas transformadoras.
Saibamos lidar sem medo e sem preconceito com as diferenças, abertos ao diálogo e a argumentação contrária. Só não podemos tentar convencer um fanático. É perda de tempo e de energia. O escritor e ativista político Carl Sagan, diz que “Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” No ambiente de polarização política que estamos vivenciando no Brasil, nos defrontamos muitas vezes com posturas anticientíficas e esforços de relativização da verdade. Com esses não dá para debater, porque não exercitam a reflexão crítica.
Rui Leitão