A queda do “Muro de Berlim” em 1989 que representou, por muito tempo, a presença do comunismo no mundo, pode ser considerada o marco do seu fim no planeta. Assim como a fragmentação da União Soviética, tida como a grande potência comunista. Sou contra toda e qualquer forma ditatorial de governar, seja de direita ou de esquerda. O comunismo como ameaça ao Brasil nunca existiu.
Triste e preocupante ver que qualquer manifestação de empatia e consciência social seja classificada como “coisa de comunista”. Confundir sensibilidade e solidariedade com “comunismo” é uma estupidez vergonhosa. Chamar alguém de “comunista” virou xingamento para alguns. Se a eles for perguntado o que é “comunismo”, com certeza não saberão responder, porque terceirizam a capacidade de reflexão.
As circunstâncias das disputas políticas na contemporaneidade nacional produzem o discurso que associa as pautas sociais progressistas ao “comunismo”. Prepondera o “anticomunismo” de origem fascista ou reacionário.
Procuram ressuscitar o “fantasma do comunismo” dos tempos da Guerra Fria. Usam de mentiras como armas políticas para induzir os incautos ao medo, na intenção de fazer com que muitos passem a acreditar nas teorias conspiratórias estrategicamente criadas. A demagogia e a hipocrisia orientando a falsa mensagem de salvação. Radicais que colocam a igualdade, a fraternidade, a solidariedade como “manifestações de comunista”. Adotam os conceitos aplicados pelo então ministro da Propaganda na Alemanha nazista, Joseph Goebbels: “mentiras repetidas à exaustão tornam-se verdades”, com o objetivo de construírem um universo paralelo, distante da realidade.
Frases como “a nossa bandeira jamais será vermelha”, “livrai-nos do comunismo”, “fora comunismo”, “intervenção militar já” aparecem escritas em diversos cartazes nas manifestações políticas da ultradireita brasileira. Teimam em querer convencer a opinião pública de que há uma estratégia comunista para destruir as famílias, a moral e os bons costumes. Falácias que não conseguem se firmar como evidências. Com essa falsa retórica defendem, inclusive, a ruptura democrática, estimulada pelo medo da “ameaça vermelha”. O imaginário anticomunista não pode continuar justificando atos de desrespeito à nossa Constituição e práticas de violência, em período democrático. Vale a pena perguntar: afinal de contas quem será o atual inimigo do Est ado Democrático de Direito em nosso país?
Nunca estivemos à beira do comunismo. Estivemos, sim, com a nossa jovem democracia em risco. Importante, pois, mostrar que há forças no Brasil contrárias à ditadura. É preciso acabar, de uma vez por todas, com a balela de que essas forças são alimentadas por um ideário comunista. A luta é em defesa da democracia, da nossa Constituição, do combate às desigualdades sociais e por uma justiça igualitária. Isso não é, nem nunca foi, comunismo.
Rui Leitão