Embora pouca gente saiba do que se trata. O fascismo é um movimento político ultranacionalista e armamentista surgido na Itália no início do século 20, que defendia um Estado soberano e militarizado. Benito Mussolini fundou o Partido Nacional Fascista, sucessor do Grupo Italiano de Combatentes, por ele também criado. Em outubro de 1922 promoveu um golpe de estado, na chamada Marcha Sobre Roma. Exerceu o poder até a morte, por 22 anos.
É, portanto, uma ação política radicalizada, baseada em ideais conservadores e patriotismo exacerbado e que usa da violência para chegar ao poder, adaptando-se à realidade política de cada país. Adota uma retórica populista, defendendo pautas morais e atacando a política tradicional, procurando estabelecer governos autoritários. Será que qualquer semelhança é mera coincidência com os acontecimentos políticos recentes no Brasil?
Em terras brasileiras o fascismo surge após Plínio Salgado visitar a Itália de Mussolini, quando se convenceu que um sistema semelhante levaria o Brasil ao progresso. Em 1932, fundou a Ação Integralista Brasileira (AIB), ao lado de Miguel Reale e Gustavo Barroso, tornando público um documento conhecido como o Manifesto de Outubro, que exaltava o nacionalismo e atacava o comunismo. Algo parecido com o que temos visto por aqui nos anos recentes. Utilizava a cor verde, saudações e braçadeiras que lembravam as dos nazistas. Dedicou esforço para que a Ação Integralista não fosse vista como um subproduto de ideias estrangeiras. Uma intenção difícil de ser acreditada.
Em maio de 1938, por ocasião do Levante Integralista, com cerca de 80 militantes que conduziram a intentona, foi facilmente debelada pelas tropas do governo. Era o fim temporário daquele movimento político. Mas, a partir de 2018, depois de um período em que a extrema direita brasileira esteve em silêncio um tanto envergonhada pela ditadura militar que experimentamos a partir do Golpe de 64, decidiu sair do armário, inspirada na retórica populista que escolheu o slogan fascista “Deus, Pátria e Família”. A ideologia fascista pequeno-burguesa ou de classe média, de perspectiva conservadora, tem confundido, inclusive, as organizações democráticas e populares, tendo como objetivo político principal a eliminação do pensamento e dos movimentos de esquerda.
Os neofacistas brasileiros estiveram muito próximos de permanecerem no poder. Já está fartamente comprovado que houve uma tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, embora fracassada. Fatores internos e externos evitaram que o golpe acontecesse. Os EUA sinalizaram que não aceitariam uma ruptura democrática no Brasil. A instituições republicanas agiram, em especial o Supremo Tribunal Federal, que, como guardião da Constituição, atuou corajosamente em defesa do Estrado Democrático de Direito. Os grupos delirantes e saudosistas da ditadura estão agonizando, mas não estão mortos. Todo cuidado é pouco.
Rui Leitão