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Por Rui Leitão: “Brasil: Ame-o ou Deixe-o"

O governo Médici endureceu o regime, ainda que a nossa democracia já estivesse agonizando desde 1964, a data do golpe. Nunca a repressão foi tão forte. O regime mostrava-se intolerante com os que não comungavam dos seus ideais, ou suas formas de administração, mas ao mesmo tempo necessitava passar a imagem de que estávamos vivendo uma fase de desenvolvimento e progresso.

02/04/2024 às 07h26 Atualizada em 03/04/2024 às 06h33
Por: Redação
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Por Rui Leitão: “Brasil: Ame-o ou Deixe-o

Foi quando surgiu o slogan “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”. Enquanto tentavam construir um clima de ufanismo, ameaçavam os opositores e descontentes. Era uma forma de dizer que “quem não se dispusesse a servir ao Brasil, de acordo com o que definiam como regra de conduta, melhor seria abandonar o país”. Em outras palavras, estimulava os adversários a deixar o Brasil, por bem ou por mal.
 
Esse bordão foi intensamente divulgado através da mídia, outdoors, adesivos e cartazes, espalhados em todo o território nacional. A publicidade tinha o claro objetivo de intimidar, embora trouxesse um sentido de injeção de ânimo patriótico. Quem estava contra o governo, além de cometer o crime de “lesa pátria”, estaria correndo o risco de ser expulso, se não o fizesse por vontade própria.
 
Assim, também se imaginava poder justificar os atos de crueldade praticados contra os “inimigos” do sistema. Esses deveriam ser tratados com todo o rigor da lei. Quer dizer, a lei criada pela ditadura, não a que se entende como ordem legal que respeita a cidadania e os direitos individuais.
 
Embarcando nessa onda de falso nacionalismo a dupla, Dom e Ravel, compôs a canção “Eu te amo, meu Brasil”, cuja letra se ajustava exatamente ao pensamento propagandista dos ditadores. Tocada à exaustão nas rádios, a intenção era conquistar a adesão da juventude, em oposição às músicas de protesto que subliminarmente continuavam a ser apresentadas pelos compositores que discordavam do governo.
 
Ainda que, absorvido pelas minhas novas atividades como bancário, continuava acompanhando essas estratégias, apesar de serem poucas as informações verdadeiras que nos era permitido o acesso. O fato é que existia o Brasil da paz, da harmonia e do progresso, mostrado pela propaganda enganosa e o Brasil da realidade crua dos subterrâneos da ditadura. A primeira imagem era amplamente divulgada. A segunda ficava propositadamente sem que pudesse ser conhecida do público.
 
Rui Leitão

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Rui Leitão
Sobre o blog/coluna
Nascido em Patos PB. Escritor e historiador. Sócio efetivo da Academia Paraibana de Letras, do Instituto histórico e geográfico paraibano e da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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