Práticas antes abertamente defendidas, agora são criticadas. De qualquer forma mantêm-se difundindo mentiras, meias-verdades e fakenews que são impulsionadas por algoritmos, de forma a confundir os desorientados politicamente. Na gramática adotada por eles, liberdade e democracia são incongruentes. Conceitos que para nós são sinônimos, para os bolsonaristas são divergentes. O que parecia legítimo, agora não parece mais. Afirma-se a incoerência no discurso de quem era governo e agora é oposição.
A vinculação entre liberdade e democracia é resultado de uma construção histórica, ideológica e política. Os reacionários, entretanto, têm demonstrado que entendem a ideia de liberdade contra a ideia de democracia. Chegaram a defender a volta da ditadura como um remédio para reconquistar a liberdade natural de oprimir, perdida pelos efeitos da democracia. Na verdade abraçam a concepção da liberdade dos mais fortes, da elite dominante, dos superiores raciais, dos mais privilegiados, em detrimento da liberdade das classes que estão na base da pirâmide social, dos que pensam diferentemente deles, dos segregados de vários tipos. Invocam a liberdade como contraproposta à democracia, buscando restaurar a tradição e a moral de 60 anos atrás, quando vivíamos uma ditadura militar.
Pelo menos era assim que víamos nos cartazes que pregavam a aplicação do AI-5, as homenagens a torturadores, a militarização da política, as intenções golpistas, nas manifestações públicas organizadas nos anos recentes. Ao perderem a eleição, tentam inverter a retórica, falando em liberdade de expressão e Estado Democrático de Direito, na promoção de um festival de contradições. Aproveitam-se do princípio da liberdade para destruir a democracia.
Defendem a família como valor supremo da sociedade, mas ignoram a importância dos salários justos, da moradia decente, da educação de qualidade, do saneamento básico, para o bem-estar familiar. Falam em patriotismo, mas idolatram estrangeiros que, pela força do poderio econômico, tentam atacar a soberania nacional. Estimulam a permanência de uma sociedade polarizada e intolerante de opiniões e crenças diversas. Protestam contra as travas institucionais, promovendo ataques ao Supremo Tribunal Federal, em flagrante desrespeito aos preceitos constitucionais. Combatem os movimentos das mulheres, de negros, de indígenas, LGBTs, direitos humanos, como se isso representasse a defesa dos valores conservadores que afirmam estar em perigo.
Pelo menos numa coisa, continuam mantendo um comportamento coerente, os movimentos de mobilização popular permanecem desfraldando a bandeira de um anticomunismo primitivo e desconexo com a realidade contemporânea. Embora pretendendo mostrarem-se democráticos, sua histórica truculência verbal e golpista desmente essa falsa intenção. E assim, a extrema direita brasileira se afoga nas próprias contradições.
Rui Leitão