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Por Rui Leitão: A EXECUÇÃO DE OLGA BENÁRIO

Aos 34 anos de idade, no dia 23 de abril de 1942, a alemã Olga Benário Prestes foi executada numa câmera de gás na Alemanha, juntamente com outras 199 prisioneiras vítimas do Holocausto.

26/04/2024 às 07h47
Por: Redação
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Por Rui Leitão: A EXECUÇÃO DE OLGA BENÁRIO

Sua relação com o Brasil ocorreu a partir do seu encontro com Luís Carlos Prestes, em Moscou, onde estava desde 1928, quando teve que fugir do país em que nasceu por ter sido acusada de alta traição à pátria após participar do assalto que libertou Otto Braun da prisão de Moabit.
 
Na Rússia ela integrou o grupo jovem da Internacional Comunista, onde recebeu formação política e treinamento militar. Lá foi escolhida para vir ao Brasil tendo como missão garantir a segurança do líder comunista brasileiro, a fim de que ele pudesse organizar uma revolução de esquerda, combatendo o fascismo. Os dois chegaram ao Brasil em 1930, disfarçados de um casal em viagem de lua de mel. Ocorre que durante a viagem de três meses se apaixonaram e oficializaram o casamento e viveram clandestinamente no Rio de Janeiro por seis anos.
 
Filinto Muller, chefe da polícia política brasileira, do Governo Getúlio Vargas, empreendeu uma temporada de caça aos “vermelhos”, em represália à Intentona Comunista, sob o argumento de que ameaçavam a ordem social e a segurança nacional. Foi quando em 1936, auxiliado pela Gestapo e dos serviços de inteligência do Terceiro Reich, descobriu a verdadeira identidade de Olga. Há quem diga que, também, recebeu a colaboração do embaixador brasileiro na Alemanha, Muniz de Aragão, para efetivar essa descoberta.
 
Em setembro daquele ano foi presa, grávida de sete meses, e deportada para a Alemanha. Na prisão de mulheres da Gestapo, em Berlim, deu à luz a Anita Leocádia Prestes, no dia 27 de novembro de 1937. No ato de sua prisão quando a Polícia Política invadiu o quarto em que morava o casal, demonstrando impressionante coragem, cumpriu à risca a missão que lhe fora dada pelo Partido Comunista, e se pôs à frente de Prestes, evitando que fosse morto. Presos e separados, foram encaminhados para a Casa de Detenção e nunca mais tiveram oportunidade de se reencontrar.
 
Foi mantida encarcerada por cinco meses. Sob o argumento de que estava grávida de um brasileiro, foi peticionado um Habeas Corpus ao Supremo Tribunal Federal, assinado pelo advogado Heytor de Lima. O Ministro Bento de Faria, relator do processo, votou pelo indeferimento do pedido, obtendo por unanimidade a seguinte sentença: “foi indeferido, por unanimidade de votos, o habeas-corpus a favor de Maria Prestes, que tambem, usa vários nomes, entre os quais o de Olga Benário. Em face da decisão da Corte Suprema, Maria Prestes será expulsa do Brasil”. Deportada, Olga foi encaminhada ao hospital do Presídio Barnimstrasse, em Berlim, onde ocorreu o parto de sua filha, conseguindo amamentá-la até a idade de um ano. A criança foi entregue aos cuidados da avó paterna, Leocádia Prestes, em 21 de janeiro de 1938, quando a mãe foi recolhida ao campo de concentração de Ravensbr& uuml;ck, em Ferstenberg. 
 
A prisão de Olga e Prestes e a posterior deportação para a Alemanha nazista são acontecimentos que marcaram a História do Brasil nas décadas de 1930 e 1940. Foi grande a repercussão desses fatos. Quando de sua prisão, o jornal Diário de Notícias assim relata a ocorrência: “Olga Benário, a perigosa extremista foi presa em companhia de Luiz Carlos Prestes e de quem só agora se conhece a verdadeira identidade”. O jornal registra, ainda, que, ao ser interrogada, o delegado perguntou qual era a sua nacionalidade, tendo como resposta: “sou brasileira, pois sou casada com um brasileiro”. Uma intensa campanha internacional foi movida pela libertação de Olga, mas só conseguiram a entrega da pequena Anita aos cuidados da avó paterna. Durante muito tempo, Olga, que teve a filha arrancada dos braços sem explicação, ficou sem saber o seu paradeiro. Prestes e a família só receberam a confirmação da morte de Olga após o fim da Segunda Guerra Mundial.
 
Olga Benário, portanto, foi uma revolucionária que lutou até a morte: mitificada pelo ideário da esquerda. Seu caso trata-se de um erro hermenêutico, considerando que foi expulsa do território nacional, como Maria Prestes, sem ter tido qualquer indiciamento ou acusação formalizados ou apreciação em consonância com o devido processo de direito. É, sem qualquer dúvida, um exemplo de resistência contra o fascismo.
 
Rui Leitão

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Rui Leitão
Sobre o blog/coluna
Nascido em Patos PB. Escritor e historiador. Sócio efetivo da Academia Paraibana de Letras, do Instituto histórico e geográfico paraibano e da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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