Estudante do Liceu e atento ao cenário político do país nos anos sessenta, acompanhava, já com alguma preocupação, a forma como os militares que detinham o poder estavam esmagando o processo democrático brasileiro. O idealismo próprio da juventude se via cerceado pelas forças opressoras da ditadura, desestimulando o exercício da política pelos estudantes e limitando a atuação dos que militavam nesse campo de atividade.
Em 1965, valendo-se de um instrumento que procurava dar legalidade às arbitrariedades cometidas, os atos institucionais, o Presidente Castelo Branco editou o AI 2 extinguindo o pluripartidarismo, tirando da ação política os 13 partidos até então existentes. Adotou-se no Brasil o bipartidarismo, com a intenção de mostrar ao mundo que vivíamos uma democracia, embora flagrantemente de “fachada”.
Foram criadas duas agremiações partidárias: a ARENA – Aliança Renovadora Nacional e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Observe-se que nenhuma das duas trazia no seu nome oficial a palavra “partido”. A ARENA, como base de sustentação política do governo, formada pelos que estavam majoritariamente na UDN e assumiam uma postura de submissão aos militares, e o MDB que representaria a oposição, integrada pelos que sobraram do expurgo aplicado através das cassações, mas uma oposição consentida, controlada, bem comportada. Estabeleceram uma espécie de rígido controle que não permitiria os divergentes do sistema ganharem força para tentar reaver o poder.
Praticávamos uma democracia do “faz de conta”. Dizia-se, em tom de piada, que o MDB era o partido do “sim” e a ARENA do “sim, senhor”. Não havia efetivamente oposição. A diferença estava em que, de um lado estavam os que se comportavam com aquiescência, e do outro os que não se envergonhavam em agir com absoluta submissão.
O ideal democrático, então, estava proibido de ser exercitado. Não se fazia política, na sua compreensão “strictu sensu”, mas uma brincadeira de fingimento, forçando a que se pudesse acreditar no imaginário.
Rui Leitão