Hugo Motta chega para ser o "nome de consenso" de boa parte da Câmara dos Deputados
Créditos: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Por Glauco Faria
O deputado federal e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), desistiu da disputa pela presidência da Câmara e declarou apoio a Hugo Motta (PB), líder da legenda na Casa.
Ele esteve nesta terça-feira (3) no Palácio do Planalto com o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos). Em nota, afirmou que recebeu "um apelo de vários líderes de partidos que não possuem candidaturas para que, em prol do Brasil, buscasse uma solução consensual que unifique a Câmara com serenidade, diálogo e previsibilidade". E, em vista disso, abriu mão da candidatura para que Motta fosse "o nome de consenso entre todas as alas políticas do plenário".
O parlamentar paraibano de 35 anos já havia manifestado a intenção de concorrer ao cargo, mas condicionava isso ao apoio de Pereira. Seu nome ganha força em vista da dificuldade de Lira para emplacar aquele que seria seu nome preferido, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), que enfrenta resistência do governo.
A "rasteira" de Kassab
Para ser o alegado "nome do consenso", Motta teria que contar ainda com a desistência do líder do PSD, Antônio Brito (BA). No entanto, até agora o presidente da legenda, Gilberto Kassab, não mostrou disposição para fazer com que o parlamentar saia da corrida. Pereira, aliás, atribuiu a Kassab o fato de ter tido seu nome inviabilizado na disputa.
"Prevaleceu o pragmatismo. Sempre que conversava com os líderes de todos os partidos, eles diziam: 'Marcos, a sua candidatura é legítima, você é um nome forte, mas se, eventualmente, der alguma zebra, você tem um trunfo: o Hugo Motta'. Então, considerando que o Gilberto inviabilizou a minha candidatura, decidi ir por esse caminho. Não tenho mágoa do caminho da decisão que eles [Brito e Kassab] tomaram", disse o presidente do Republicanos, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Na prática, sem o apoio do PSD, Pereira ficou sem ter como enfrentar Elmar Nascimento. A saída foi propor Hugo Motta, que tem um estilo considerado muito mais conciliador do que o de Arthur Lira e do próprio parlamentar baiano, bolsonarista que tem rusgas com o PT em seu estado.
Hugo Motta, nome com trânsito
"O Hugo Motta tem o perfil muito diferente do Artur Lira, é jeitoso, é amigo de todo mundo, é uma figura que tem no trato pessoal uma habilidade grande. O Hugo Motta foi levado ao Lula pelo Marcos Pereira. E o Lula falou: 'Se ele tem apoio, se o Lira topa, pra mim, quero conhecer mais", pontua o jornalista político Kennedy Alencar.
Se não é uma derrota flagrante de Lira, é uma solução bem aquém do que ele pretendia, segundo o jornalista. "O Lira, publicamente, assumiu que o Executivo ia interferir na eleição do Congresso. Isso já foi um sinal de fraqueza do Lira pra poder bancar o Elmar Nascimento. O Lula, que tem mais anos de estrada do que o Lira, ficou esperando o que ia acontecer e o nome que ele ia trazer. O nome que o Lira sempre quis é o do Elmar Nascimento, é o estilo parecido com o dele. Se o Lira emplaca o Elmar Nascimento, é correia de transmissão ali, é o que ele realmente queria."
Hugo Motta foi integrante da base dos governos Dilma, Temer e Bolsonaro e votou no ex-presidente em 2022. Graças ao ministro Silvio Costa Filho, que assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos, se aproximou do Planalto. Em 2016, quando filiado ao MDB, votou pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Como mostra o Congresso em Foco, o Radar do Congresso aponta que Hugo Motta votou segundo a orientação do governo Lula em 86% das votações, um percentual acima do índice médio de governismo da Câmara, que é de 79%.