Figuras folclóricas, desprovidas de seriedade, risíveis até, ganham força na política. Delinquentes virtuais se apresentam como postulantes a cargos eletivos e são aceitos como alternativas de voto por muita gente. É o caso de Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo.
Pensei que havíamos chegado ao fundo poço. Não chegamos. Existe coisa pior do que as lideranças que passamos a conhecer nos anos recentes. O que nos dá ânimo para acreditar que sejam fenômenos passageiros é que esses mitos estão brigando no mesmo campo ideológico, um procurando destruir o outro, disputando o mesmo espaço político. Naturalizam o absurdo, romantizam a barbárie, praticam a desonestidade, e, mesmo assim, seduzem incautos e alienados. São iguais no discurso antidemocrrático e no perfil autoritário. A diferença é que “a nova cara do fascismo” tem uma biografia mais completa no mundo do crime. A “bolha” apenas substitui o dono.
Boa parte da sociedade adoeceu intoxicada pela guerra da mentira, do ódio e da difamação e aplaude quem se comporta como o Dick Vigarista, aquele personagem do desenho animado dos anos 80. Ele não respeita as regras da civilidade, da ética e da moral. Vale tudo na corrida eleitoral. O exercício de táticas sujas surpreendentemente se mostra uma boa estratégia de campanha.
O debate político empobrece pela falta de escrúpulo e compromisso com a democracia. O novo líder da extrema direita brasileira se apresenta como a degradação da política, sem conseguir produzir mensagens propositivas que façam enxergar nele alguém comprometido com a responsabilidade administrativa do cargo para o qual está se candidatando. O fascismo continua contribuindo para que os desastres eleitorais sejam repetidos.
Rui Leitão