Ao fim de todo processo eleitoral é importante que se faça uma análise cuidadosa dos resultados apresentados nas urnas, para que se possa planejar um trabalho político projetando o futuro. No domingo último tivemos o encerramento das eleições municipais. Delas podemos extrair algumas considerações importantes na compreensão de como o eleitorado se manifestou.
Em primeiro lugar, há uma verdade difícil de ser questionada, os pleitos municipais não possuem força ideológica nas decisões do eleitorado. A segunda constatação é de que seus resultados não exercem qualquer influência na eleição presidencial. Tanto isso é verdade que Lula tem se mantido imbatível nas disputas ao maior cargo executivo da República, mesmo o PT amargando derrotas a nível municipal desde 2016. Em 2018 só não foi eleito, porque encontraram um jeito de impedir sua candidatura, inclusive, encarcerando-o.
Neste ano a história se repete, os grandes vitoriosos foram os partidos que formam o Centrao, onde a maior parte está na base de apoio do governo federal. Logo, é inadmissível responsabilizar o presidente pelas derrotas da esquerda ou do PT. Lula é maior do que o partido que fundou nos anos 80 do século passado.
Acrescente-se a isso o fato de que pouco se dedicou às campanhas nos diversos municípios do país. Exatamente para não criar dificuldades no relacionamento com os aliados. Foi pragmático. Se envolveu pouco, à exceção de São Paulo, Fortaleza e Natal, onde se fez presente em alguns atos públicos. Recomendou apoio oficial do PT a alguns candidatos de outras legendas, como no caso do Rio de Janeiro e Recife, no primeiro turno, e em São Paulo, Belém e João Pessoa, no segundo turno. Perdeu na capital paulista e em Natal, mas foi vitorioso nas demais cidades.
A verdade é que o PT carrega o estigma de ser um partido de esquerda, com integrantes que podem ser classificados de extremistas. O que não é o caso de seu líder maior que ocupa a presidência da República. Está muito claro, que isso tem concorrido para que se observe um alto percentual de rejeição ao partido, o que, necessariamente, obrigará a legenda rever seus posicionamentos e a forma de dialogar com o eleitorado.
Portanto, nas urnas o que se viu foi a desaprovação ao que podemos chamar de extremismos, tanto da direita, quanto da esquerda. Basta ver que, ao lado dos resultados pífios dos partidos ditos de esquerda, o grande derrotado dessas eleições foi o bolsonarismo. O ex-presidente conseguiu brigar até com outras lideranças da direita que não concordavam com a sua maneira política de atuar, agindo com radicalismos. E nessas brigas saiu perdendo e se fragilizou como liderança maior da extrema direita, que está fragmentada. Das nove capitais em que o PL esteve no segundo turno, venceu apenas em duas. Atores políticos do bolsonarismo, bastante conhecidos, como André Fernandes, Gayer, Nikolas, delegado Eder Mauro, Queiroga, Alexandre Ramsgem, todos expoentes do seu partido foram derrotados. Cinco ex-ministros do seu governo não lograram exito nas urnas. Vai ter que dividir espaços de co mando e de perspectiva eleitoral para a presidência, com nomes como o de Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Pablo Marçal, dentre outros. A condição de ídolo imbatível no campo ideologico da extrema direita, que até então ele próprio insiste em propagar, já não é mais a mesma. Sem contar com o fato de que se encontra inelegível.
Em síntese, a sociedade brasileira contemporânea mandou o recado: rejeita os discursos extremistas. Quem não conseguir fazer essa leitura estará fadado a enfrentar novos fiascos eleitorais em 2026.
Rui Leitão