Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
Créditos: Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress
Por Ivan Longo
A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann, expôs nesta segunda-feira (4) a responsabilidade do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, diante da disparada da cotação do dólar com relação ao real.
Na última sexta-feira (1), o dólar disparou e chegou a R$ 5,86. Entre as principais razões para a subida da moeda norte-americana está a especulação do mercado financeiro com relação aos gastos públicos no Brasil. Nesta segunda-feira (4), após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar que o governo deverá anunciar um corte de gastos ainda esta semana, o dólar caiu para R$ 5,78.
Segundo Gleisi, o presidente do BC tem responsabilidade em tal cenário pois não vêm utilizando um instrumento clássico da autoridade monetária para conter a disparada da moeda em meio a especulação, que seria justamente vender dólares de suas reservas cambiais. Tal prática foi adotada por Campos Neto em várias ocasiões durante o governo Bolsonaro para evitar a supervalorização do dólar – algo que não vem sendo observado no governo Lula.
"Vender dólares quando a cotação sobe é o instrumento clássico dos Bancos Centrais para conter a especulação. O BC de Campos Neto fez 122 intervenções desse tipo no tempo do Bolsonaro. E só duas, ano passado, no governo Lula. Agora, responda se o dólar dispara por conta de uma crise fiscal inexistente ou pela sabotagem de Campos Neto?! É criminoso o que estão fazendo com o país", disparou Gleisi Hoffmann.
"Chantagem do Banco Central com DNA do bolsonarismo"
No início de julho deste ano, quando o dólar disparou e chegou a R$ 5,66, parte da imprensa associava a alta da moeda a uma reação do mercado às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerindo que não cortará gastos em áreas essenciais como aposentadoria, saúde e educação.
À época, em entrevista à Fórum, o economista Paulo Kliass já avaliava que os grandes responsáveis pela disparada do dólar são o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e agentes do sistema financeiro.
“É óbvio que não são as falas do Lula que estão provocando essa movimentação na taxa de câmbio. O principal responsável é o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O comportamento dele contribui muito para criar esse clima de incerteza”, sentenciou,
Kliass chamou atenção para o fato de que o problema teria começado a ser gestado ainda em 2021, quando foi aprovada a lei que estabeleceu a independência do BC, apesar da instituição sempre ter sido autônoma.
“O BC sempre foi autônomo, mas era um órgão de governo subordinado ao Ministério da Fazenda, uma autarquia. O presidente tinha a capacidade de nomear os diretores, que eram sabatinados pelo Senado. O que fizeram foi pensar: ‘vai que o Lula ganha a eleição, vamos nos antecipar e colocar dificuldade’. Todos os diretores da gestão Bolsonaro ficaram com mandato fixo. Então, chegamos ao paradoxo da antidemocracia: o Lula toma posse em janeiro de 2023 e tem 9 bolsonaristas na direção e fiscalização do órgão regulador do sistema financeiro”, asseverou.
O economista afirmou ainda que esses diretores indicados por Jair Bolsonaro passaram “meses sabotando a política monetária e cambial do Lula” e que o presidente da República, desde o início, “identificou um problema nessa dualidade de poder”, já que a política monetária e cambial são aspectos fundamentais da política econômica. Apesar de Lula, pouco a pouco, ter indicado 4 diretores, a maioria ainda é “herança maldita” de Bolsonaro e isso “cria algum tipo de incerteza e expectativa do ponto de vista do interesse do financismo”.
Segundo Paulo Kliass, foi neste contexto que o BC e o sistema financeiro passaram, nos últimos meses, a “chantagear” o governo com especulação, fazendo o dólar disparar.
“Vejam que o sistema financeiro poupa o Fernando Haddad [ministro da Fazenda], o discurso oficial é que Haddad está fazendo o dever de casa, cortando gastos, austeridade. O Lula, não. O Lula é gastador, irresponsável e populista, segundo eles. E a arma que eles lançaram mão, com toda a bancada que têm para impedir o governo de levar à frente as necessidades do país, é essa história do dólar (...) E nos últimos três meses, quando teve maior atrito na questão da política fiscal, que promoveram uma desvalorização de caráter meramente especulativo. Isso quando as informações sobre a economia justamente melhoraram muito. Não há razão [para a alta do dólar] do ponto de vista dos fundamentos da economia para esse movimento”, avaliou.
“O Lula, em suas declarações, está sendo muito correto no sentido de identificar quem está sendo o responsável pela nossa instabilidade (...) Isso é uma grande chantagem com DNA do bolsonarismo em aliança com setores do sistema financeiro”, prosseguiu Kliass.