O ex-presidente José Sarney (MDB) manifestou uma visão contrária ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sobre os rumos do partido que eles representam, o Movimento Democrático Brasileiro, para as eleições presidenciais de 2026.
Enquanto Nunes, reeleito com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), sugeriu que a sigla deveria se alinhar ao grupo político da extrema-direita, Sarney argumenta que o partido deve manter o apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em entrevista ao Estadão, Sarney, que diz ser amigo pessoal de Lula, reforçou que, caso o petista opte pela reeleição, o MDB tem motivos para apoiá-lo, lembrando a presença de três ministros do partido no governo atual: Simone Tebet (Planejamento), Jader Filho (Cidades) e Renan Filho (Transportes).
Para ele, que presidiu o país ao fim da ditadura militar, o petista realiza um governo que reflete os interesses da população, com base em suas origens trabalhistas, algo que considera vital para a democracia brasileira.
“E ele está fazendo um bom governo, não tá? Tá. Como sempre fez em outros mandato. O Lula tem uma grande presença, veio da classe trabalhadora e representa a visão da população. Ele foi o homem que estendeu a participação de todas as classes no governo. Se não fosse a democracia, o Lula não seria candidato a presidente”, disse o ex-presidente.
Sarney, de 94 anos, recordou em artigo recente a importância histórica do MDB, fundado como um partido de oposição à ditadura militar e liderado por figuras emblemáticas, como Ulysses Guimarães. Ao lado do também ex-presidente Michel Temer (MDB), golpista que organizou o impeachment da presidente Dilma, eles são os decanos do partido e com maior poder de influência na sigla, com a diferença que Sarney jamais traiu políticos que lhe ofereceram alianças.
O partido, afirma o ex-presidente, foi crucial para a redemocratização do Brasil em 1985 e segue desempenhando papel relevante na política nacional. Para ele, o MDB não deve se afastar dessa tradição ao se alinhar com forças políticas que não compartilham de seus valores históricos.
Os ex-presidentes do Brasil, José Sarney (MDB) e Lula (PT). Foto: reprodução
Quadro presidencial de José Sarney, em 1985. Foto: reprodução
O ex-presidente elogiou o trabalho de Baleia Rossi, presidente do partido, que coordenou as ações do MDB nas últimas eleições municipais, ajudando a legenda a conquistar 864 prefeituras pelo Brasil. Com esse crescimento, Sarney acredita que o partido está preparado para influenciar diretamente as próximas decisões eleitorais do país.
Ao comentar o apoio de Nunes ao ex-presidente Bolsonaro e a Tarcísio de Freitas, Sarney criticou o que considera uma falta de alinhamento ideológico com o MDB. Segundo ele, a adesão do prefeito paulistano ao bolsonarismo vai contra a lógica partidária, já que o partido ocupa ministérios de grande importância no governo federal.
“O MDB tem três ministérios robustos entre as pastas centrais”, destacou. Além disso, Sarney reforça que o apoio do MDB ao governo Lula é informal, resultado de diálogo, e não de uma decisão formalizada.
O ex-presidente também reprovou a postura do influenciador Pablo Marçal, que recentemente promoveu uma campanha crítica ao partido e seus membros. Para Sarney, a busca por desestabilizar o MDB e seus representantes é um desserviço ao debate democrático e ao fortalecimento das instituições políticas brasileiras.