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Áudios expõem trama golpista: ‘É guerra civil agora ou depois’, diz coronel

'Vamos para o vale tudo, eu tô pronto a morrer por isso', diz general

26/11/2024 às 05h39 Atualizada em 26/11/2024 às 18h11
Por: Redação Fonte: ICL
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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

No âmbito das investigações sobre os planos golpistas para manter Jair Bolsonaro (PL) na Presidência, áudios obtidos pela Polícia Federal mostram a comunicação de militares enquanto tramavam a ruptura democrática.

As apurações da PF culminaram na Operação Contragolpe, deflagrada na terça-feira (19), que prendeu cinco pessoas (quatro militares e um policial federal) por suspeita de envolvimento na tentativa de golpe.

Esses áudios fazem parte da investigação que articulou plano para matar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Os 52 áudios mostram a participação ativa do general Mário Fernandes, um dos presos na operação da PF, na articulação golpista, e conversas com outros militares como o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu. As gravações foram reveladas pelo Fantástico, da TV Globo, e obtidas pelo UOL.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, afirma a Mário Fernandes que vai “conversar” com o então presidente da República sobre a possibilidade de autorizar a ação dos militares no que sugere ser a autorização para o golpe de Estado. A fala é uma resposta ao general, que, segundo as investigações da PF, foi um dos principais articuladores da intentona golpista.

“Não, pode deixar. Vou conversar com o presidente. O negócio que ele tem essa personalidade às vezes, né? Ele espera, espera, espera, espera para ver até onde vai e ver os apoios que tem. Só que, às vezes, o tempo tá curto, né? Não dá para esperar muito mais passar, né? Dia 12 seria teria que ser antes do dia 12, né, mas com certeza não vai acontecer nada. E, sobre os caminhões, pode deixar que eu vou comentar com ele porque o Exército não pode. Papa mosca de novo, né, a área militar, ninguém vai se meter até porque a manifestação é pacífica, né? Ninguém tá fazendo nada ali”, diz Mauro Cid a Mário Fernandes.

Áudio: ‘Vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois’
Em conversa com Mário Fernandes, o coronel Roberto Criscuoli falou em “guerra civil agora ou guerra civil depois” ao citar uma suposta resposta popular à vitória de Lula. Para ele, uma decisão tem que ser “tomada urgente” e o presidente – então, Bolsonaro – “não pode pagar pra ver”.

áudios de coronel da reserva Roberto Raimundo Criscuoli, ex-tenente-coronel do Exército Brasileiro

áudios de coronel da reserva Roberto Raimundo Criscuoli, ex-tenente-coronel do Exército Brasileiro
Coronel da reserva Roberto Raimundo Criscuoli, ex-tenente-coronel do Exército Brasileiro

“Ô Mário, bom dia. Mário, eu tava até conversando agora com o pessoal aqui, cara. Se nós não tomarmos a rede agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem um significativo, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o exército, vai destruir tudo. Aí o povo vai dizer assim, agora que mexeram com você, vocês vão pra rua. Se você resolve tomar… Então vai ficar feio. Porque ele vai destruir todo o exército. Ele vai mandar todos os 4 estrelas embora. Vai ficar com os G. Dias (general Gonçalves Dias) e alguns outros aí. Cara, não vai ficar legal, cara. É melhor ir agora. O povo tá na rua e pedindo, que, daqui a pouco, nós vamos ir por interesse próprio. Aí não vale. Aí eu não vou. Aí eu não vou.

Então é a hora de ir agora, cara. Também concordo com esse texto que tu mandou. Pô, tô dentro. Mas tem que ir agora que o povo está pedindo. Não porque vão mandar os generais pra reserva. Então eu acho que essa decisão tem que ser tomada urgente, cara. E o presidente não pode pagar pra ver também, cara. Ele vai destruir o nosso país, cara. O argentino já esteve aqui com o chapéu na mão, cara. Vai esperar virar uma Venezuela pra virar o jogo, cara? Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata mais agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. Agora o povo da rua tá pedindo, pelo amor de Deus.

Vai dar uma guerra civil? Vai dar, eu tenho certeza que vai dar, porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora. Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro, amanhã eu não tô mais não. Amanhã é o que eu quero dizer daqui a pouco. Por interesses outros eu não vou. Nem eu e nem a turma daqui. Um saco cheio de explicar pro civil que as coisas tão sendo tomadas, que tem um cara lá que tá fazendo isso, tem um pessoal que vai falar, tem um pessoal que tá acusando, tamo pegando prova. A porra, não dá mais, cara. Não dá mais. Não é mais pra ter prova não, quer mais prova do que já teve? E o povo tá na rua pedindo? Vambora, pô! Pau!”, diz Criscuoli durante conversa com Mário Fernandes.

Áudio: ‘clamor popular, como foi em 64’
Em conversa com um militar, Mário Fernandes fala em “clamor popular, como foi em 64 (ano do golpe militar)” para convencer o Alto Comando das Forças Armadas a endossar a tentativa de golpe. Na conversa, Fernandes fala em “inflamar a massa” para que o “start” do golpe seja “feito pela sociedade”.

“Tá na cara que houve fraude, porra. Tá na cara, não dá mais pra gente aguentar essa porra. Tá foda. Tá foda. E outra coisa: nem que seja pra divulgar e inflamar a massa, pra que ela se mantenha nas ruas, e aí, sim, talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque, como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não tá muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção A não ser que o start seja feito pela sociedade. Pô, Geraldo, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à brigada e o pessoal de divisão da minha turma, cara. Força, kid preto. Um bom final de semana e que esse final de semana e a próxima semana nos tragam um acalento. A gente tá precisando”, diz Mário Fernandes em conversa com um militar sobre os planos golpistas.

Áudio: ‘Vamos para o vale tudo, eu tô pronto a morrer por isso’
Em diálogo com Mário Fernandes, o general Hélio Osório de Coelho afirma estar “pedindo a Deus” para que o presidente – na época, Jair Bolsonaro – tome uma “ação enérgica” e que irá para o “vale tudo”. Ele diz que é capaz de “morrer por essa nação” e que se recusa a viver sob o “jugo de bandidos criminosos, comunistas”, ao mostrar indignação com a vitória de Lula…

“Eu sou capaz de morrer, cara, pelo meu país, sabia? Pelo meu presidente, cara. Sou capaz de morrer por essa nação a ter que viver sob jugo de bandidos criminosos, entendeu? Comunistas. Eu sou capaz de morrer, cara, por essa nação. Só pode ter certeza disso. Não só eu, mas milhares e milhares de pessoas. Entendeu? Eu não consigo vislumbrar meus sobrinhos, minhas sobrinhas, os filhos pequenos de meus amigos, das minhas amigas, ficando sob o jugo desse vagabundo. Não consigo imaginar. Eu prefiro ir pra guerra. Eu prefiro ir pro campo de batalha. Entendeu? Viver a pátria livre ou morrer pelo Brasil. Entendeu? Aprendi isso na caserna. Honrar a minha bandeira. Honrar o meu presidente. Então eu… tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos sim pro Vale Tudo. Eu tô pronto a morrer por isso. Porque o que adianta viver sem honra? O que adianta andar na rua de cabeça baixa e não poder bater no peito que um dia eu lutei pela liberdade?”, diz General em diálogo com Mário Fernandes.

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