Créditos: Divulgação/Palácio do Planalto
Por Cleber Lourenço
O relatório da Polícia Federal sobre as ações da organização criminosa ligada a Jair Bolsonaro expôs uma complexa articulação envolvendo militares e estratégias clandestinas para garantir a fuga do ex-presidente. O plano, que incluía a operação chamada “ECD exfiltrar o Pr para fora do país”, foi detalhado em documentos obtidos na investigação, revelando táticas que iam desde o uso de estruturas estratégicas até a mobilização de forças armadas para assegurar sua segurança.
Ações para preparar a fuga de Bolsonaro
Entre as medidas descritas no relatório, o plano previa a ocupação de "estruturas estratégicas" como forma de dissuasão e suporte ao ex-presidente. A expressão, utilizada no contexto militar, refere-se a instalações críticas cujo controle poderia influenciar a estabilidade política e social do país. Essa ocupação serviria para criar um ambiente de apoio ao ex-presidente, dificultando ações judiciais ou operacionais contra ele.
O documento descreve também o armazenamento de armamento e munição em locais acessíveis para uso imediato. Segundo os registros, a ideia era "providenciar cofre e deixar ao alcance". Essa logística visava garantir a prontidão de forças leais para proteger Bolsonaro.
Operação "ECD" e fuga ao exterior
Uma das ações mais detalhadas foi a “ECD exfiltrar o Pr para fora do país”. A operação previa o uso de uma Rede de Apoio de Fuga Estruturada (RAFE/LAFE), planejada para conduzir Bolsonaro ao exterior de forma sigilosa e protegida. Esse tipo de operação, segundo o relatório, utilizaria rotas clandestinas, meios aéreos e suporte logístico internacional, assegurando que Bolsonaro escapasse de eventuais sanções do Poder Judiciário.
Essas ações, segundo a investigação, eram articuladas de maneira independente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que seria deliberadamente excluído das operações para evitar vazamentos de informações ou resistências internas. A estratégia centralizava o controle do plano nos militares mais alinhados ao ex-presidente.
Antecedentes e justificativa do plano
O relatório aponta que o plano de fuga começou a ser estruturado ainda em 2021, quando Jair Bolsonaro intensificou ataques contra o Supremo Tribunal Federal e o sistema eleitoral. Durante as comemorações do 7 de setembro daquele ano, o ex-presidente insinuou a possibilidade de ruptura institucional e deixou claro seu descontentamento com as ações do Judiciário.
Os registros indicam que, a partir desse momento, foram feitos preparativos para garantir a saída de Bolsonaro do país em caso de um colapso de sua estratégia golpista. As ações incluíram o levantamento de rotas seguras e o estabelecimento de bases de apoio para fuga, evidenciando um planejamento meticuloso e de longo prazo.
Militares e infraestrutura envolvida
O documento descreve como militares de alta patente foram mobilizados para o plano. Esses oficiais, em coordenação com a estrutura paralela criada pela organização criminosa, teriam garantido o controle de "infraestruturas críticas" para apoiar a fuga. Além disso, mensagens recuperadas pela PF indicam que a ideia era utilizar essas estruturas não apenas para facilitar a evasão, mas também como demonstração de força para intimidar possíveis adversários.
A revelação de um plano tão detalhado expõe a gravidade da tentativa de subversão do Estado Democrático de Direito. A organização criminosa liderada por Jair Bolsonaro não apenas buscava reverter os resultados eleitorais, mas também se preparava para proteger o ex-presidente em caso de fracasso.
O relatório reforça que as investigações estão longe de terminar, uma vez que novos elementos indicam a participação de outros militares e civis no esquema. Com essas evidências, as autoridades buscam identificar e responsabilizar todos os envolvidos na tentativa de golpe e na conspiração para assegurar a impunidade de Bolsonaro.