Dias Toffoli (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)
247 – O ministro Dias Toffoli sinalizou, durante julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que poderá votar pela derrubada do artigo 19 do Marco Civil da Internet, peça fundamental para a garantia da liberdade de expressão no Brasil. O julgamento, que discute a constitucionalidade desse dispositivo, começou nesta semana e pode culminar na responsabilização das plataformas digitais por conteúdos de terceiros mesmo sem decisão judicial prévia. Para críticos, a mudança ameaça o equilíbrio entre liberdade e moderação, prejudicando o ecossistema democrático da internet brasileira.
A decisão de Toffoli, ainda em construção, alinha-se ao movimento de figuras como o advogado-geral da União, Jorge Messias, que defendeu a inconstitucionalidade do artigo sob o argumento de que o dispositivo favorece a manutenção da desinformação. Essa visão, no entanto, contrasta com a defesa histórica do artigo 19 como um modelo eficaz para proteger a pluralidade, permitindo que decisões sobre remoção de conteúdo passem pelo crivo judicial, em vez de ficarem nas mãos das plataformas ou de notificações privadas.
Os riscos de um modelo restritivo
A possível derrubada do artigo 19 desperta preocupações sobre censura preventiva e o enfraquecimento do jornalismo independente. Sob um modelo em que notificações extrajudiciais possam obrigar a remoção de conteúdos, há o risco de que plataformas ajam de forma automática e indiscriminada, eliminando conteúdos legítimos por medo de represálias legais. Isso ameaça especialmente as vozes dissidentes e críticas, que encontram na internet um espaço para questionar os grandes conglomerados midiáticos e o poder político.
A experiência internacional, frequentemente citada como justificativa para a mudança, é muito distinta da realidade brasileira. Na União Europeia, por exemplo, há uma comunicação pública robusta e menos desigualdade no acesso à informação. No Brasil, a dependência das plataformas digitais como meio de expressão torna o artigo 19 ainda mais relevante para a proteção da democracia e da pluralidade.
Pressão da Globo e interesses por trás da mudança
O editorial publicado pelo jornal O Globo na véspera do julgamento evidencia as pressões que o STF enfrenta. Defendendo a revogação do artigo, a Globo argumenta que a medida seria necessária para combater desinformação e discursos de ódio. Contudo, críticos enxergam nesse posicionamento um interesse subjacente de restringir a concorrência e limitar o alcance de vozes independentes na internet.
Historicamente, a Globo enfrentou dificuldades em se adaptar ao ambiente digital, onde emergiram novas plataformas de jornalismo e opinião que desafiam sua hegemonia. Sob a proteção do artigo 19, veículos independentes cresceram, ampliando o debate público e trazendo à tona narrativas frequentemente ignoradas pela grande mídia. A defesa de um modelo mais restritivo é vista como uma tentativa de restaurar o controle sobre o fluxo de informações.
A importância do artigo 19 para a internet brasileira
Desde sua criação, o Marco Civil da Internet tem sido um marco global no equilíbrio entre liberdade de expressão e responsabilidade. O artigo 19, em particular, garante que a moderação de conteúdos seja conduzida com critérios claros, evitando censura arbitrária e garantindo que plataformas não sejam responsabilizadas indevidamente por conteúdos de terceiros.
Essa estrutura tem permitido que a internet brasileira se mantenha como um espaço plural e democrático, enquanto oferece mecanismos para coibir abusos, sempre com respaldo do Judiciário. Derrubar o artigo significaria retroceder nesse equilíbrio, colocando em risco conquistas essenciais para o debate público.
Com o julgamento ainda em andamento, o Brasil se encontra em um momento decisivo para o futuro de sua democracia digital. Entre a manutenção de um sistema que valoriza a pluralidade e a adoção de um modelo que pode favorecer a censura e a concentração de poder, o país assiste ao STF decidir não apenas sobre um artigo, mas sobre os próprios alicerces da liberdade de expressão na era digital.