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“Eles são tão distraídos que até aprovaram uma lei que vai levá-los à cadeia”, diz Paulo Teixeira

Ministro Paulo Teixeira explica como a Lei 14.197/21, aprovada durante o governo Bolsonaro, agora é usada para indiciar o ex-presidente e aliados

01/12/2024 às 01h33 Atualizada em 02/12/2024 às 07h00
Por: Redação
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“Eles são tão distraídos que até aprovaram uma lei que vai levá-los à cadeia”, diz Paulo Teixeira
  • (Foto: Divulgação | ABR)

247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Paulo Teixeira, trouxe detalhes sobre a elaboração da Lei 14.197/21, a Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, sancionada em 2021 durante o governo Bolsonaro. Hoje, essa mesma legislação é a base para os indiciamentos do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros 36 investigados, incluindo militares e ex-ministros, pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

Paulo Teixeira revelou que a proposta de lei nasceu em um momento de grande tensão política no Brasil, quando a antiga Lei de Segurança Nacional (LSN) estava sendo usada para perseguir opositores do governo Bolsonaro e havia o risco iminente de um golpe de Estado. “Muitos jornalistas, ativistas e intelectuais estavam sendo enquadrados pela LSN, enquanto o então presidente Jair Bolsonaro fazia ameaças claras às instituições democráticas, como a interpretação absurda do artigo 142 da Constituição para justificar uma intervenção militar”, explicou o ministro.

Foi nesse cenário que um grupo de juristas sugeriu a revogação da LSN e a criação de uma legislação que realmente protegesse o Estado Democrático de Direito. Teixeira destacou o papel de figuras como Lênio Streck e Pedro Serrano, que participaram do processo de elaboração da proposta, e da deputada Margarete Coelho, relatora do projeto, cujo trabalho foi fundamental para consolidar um consenso no Congresso. 

O ponto de virada: criminalizar a tentativa de golpe


Um dos principais debates durante a elaboração da lei foi a inclusão do crime de tentativa de golpe de Estado. Segundo Teixeira, havia resistência inicial por parte de juristas mais conservadores, como Miguel Reale Júnior, que defendiam que só o golpe consumado deveria ser criminalizado. “Dissemos a ele: se precisarmos esperar o golpe se concretizar, todos estaremos presos e as instituições destruídas. Precisamos de um tipo penal que criminalize a tentativa”, relatou o ministro.

Essa argumentação foi decisiva para a inclusão do artigo que criminaliza ações para abolir o Estado Democrático de Direito, mesmo que não tenham sido consumadas. “A legislação brasileira hoje é clara: tentar golpear a democracia é crime, e isso está previsto na lei que criamos”, afirmou Teixeira.

Bolsonaro indiciado com base na lei que sancionou

Paulo Teixeira também ironizou o fato de que Jair Bolsonaro sancionou a Lei 14.197/21, a mesma que agora embasa seu indiciamento. “É curioso. Bolsonaro assinou a sanção da lei junto com aliados como Braga Netto, Heleno e Damares, e todos eles já foram indiciados com base nessa legislação. Isso mostra como eles subestimaram a força das instituições democráticas”, afirmou.


O ministro ainda ressaltou que, na época, Bolsonaro estava politicamente enfraquecido no Congresso, o que facilitou a aprovação da lei. “Ele tinha abandonado o Parlamento, preferindo passar os dias no cercadinho atacando instituições. Só depois, com o orçamento secreto, ele consolidou um controle maior do Congresso. Mas naquele momento, conseguimos aprovar a lei que hoje está protegendo nossa democracia.”

A tentativa de golpe e o plano "Punhal Verde e Amarelo"

A investigação que culminou nos indiciamentos revelou o detalhado plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que incluía o assassinato de Lula, Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Segundo Teixeira, a lei permitiu enquadrar os atos preparatórios como crimes, algo essencial para evitar que o golpe fosse consumado. “Se tivéssemos esperado o ato final, seria tarde demais. A legislação que criamos possibilitou agir preventivamente, como em casos de terrorismo”, explicou.

A importância da lei e o futuro da democracia


Paulo Teixeira finalizou destacando a relevância histórica da Lei 14.197/21 para a proteção das instituições democráticas brasileiras. “O enquadramento de Bolsonaro e de seus aliados mostra que o Brasil tem mecanismos para enfrentar ataques ao Estado Democrático de Direito. É um aviso claro de que ninguém está acima da lei”, afirmou. 

Com os indiciamentos já realizados, o ministro espera que a Procuradoria-Geral da República (PGR) formalize as denúncias e que os responsáveis sejam levados à Justiça. “A sociedade brasileira rejeitou essas tentativas de ruptura democrática, e cabe agora às instituições darem uma resposta firme e definitiva a essas ameaças.” Assista: 

 

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