Dois motivos fizeram ex-presidente ordenar recuo em projeto para livrá-lo da iminente prisão. "Eu peço a alguns parlamentares do PL e de outros partidos também: vai com calma", disse Bolsonaro, que segue incitando seguidores nas redes
Créditos: Divulgação / Silas Malafaia
Por Plinio Teodoro
Usando a justificativa esfarrapada de que é para tirar "velhinhas com bíblia na mãos", presas no 8 de Janeiro, da prisão, o Projeto de Lei da Anistia deve ir para a gaveta na Câmara dos Deputados e servir apenas para incitar a horda de radicais para tentar evitar a prisão de Jair Bolsonaro (PL).
O próprio ex-presidente entrou em campo nesta segunda-feira (7) e determinou ao líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que recue na estratégia já divulgada de expor fotos de deputados que não aderiram à proposta em um "carômetro" na internet.
"Atendendo a um pedido do nosso eterno presidente Jair Bolsonaro vamos, estrategicamente, adiar a publicação dos nomes dos parlamentares que assinaram e dos que ainda estão indecisos", escreveu Cavalcante em seu perfil na rede X.
ATENDENDO A UM PEDIDO DO NOSSO ETERNO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO,
— Sóstenes Cavalcante (@DepSostenes) April 7, 2025
vamos, estrategicamente, adiar a publicação dos nomes dos parlamentares que assinaram e dos que ainda estão indecisos.
FALTAM 64 ASSINATURAS.
Seguimos firmes. O Brasil exige justiça.
COBRE SEU DEPUTADO!#AnistiaJá…
O recuo foi determinado por Jair Bolsonaro após uma declaração do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que sinalizou que não vai atuar para tentar aprovar o PL e livrar o ex-presidente da cadeia.
"Não vamos ficar restritos a um só tema, vamos levar essa decisão ao Colégio de Líderes, vamos conversar com o Senado e com os Poderes Judiciário e Executivo, para que uma solução de pacificação possa ser dada. Aumentando uma crise, não vamos resolver esses problemas, não embarcaremos nisso", afirmou Motta, sobre o PL da Anistia, em evento realizado na Associação Comercial de São Paulo.
O presidente da Câmara ainda sinalizou que deve atuar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para "corrigir algum exagero que vem acontecendo com relação a quem não merece receber uma punição" e que não tem pretensão em entrar na guerra declarada pelo bolsonarismo à corte.
"Acho que essa sensibilidade é necessária, toca a todos nós. E a responsabilidade de poder, na solução desse problema, que é sensível e é justo, nós não aumentarmos uma crise institucional que nós estamos vivendo", emendou.
Bolsonaro entendeu o recado e, em entrevista a um site aliado, voltou a dizer, mansamente, que Motta está sofrendo pressão para retirar o PL da pauta.
"O que eu acho do Hugo Motta - e eu já conversei com ele algumas vezes. Ele leva pressão do ministro lá do Supremo, que não deveria acontecer, que é interferência. Leva pressão por parte do Executivo", afirmou o ex-presidente.
"O que eu acho que se faz, na imprensa, é que nós, os mais interessados na anistia, partamos para o confronto. E daí, sim, você tem um clima desfavorável. Então eu peço a alguns parlamentares do PL - e de outros partidos também -: vai com calma", afirmou.
No entanto, nas redes, Bolsonaro segue incitando radicais para criar um sentimento de revolta, usando mentiras sobre a condenação dos apoiadores que foram presos causando quebra-quebra na Praça dos Três Poderes atendendo justamente ao chamado da organização criminosa, comandada por ele, para desencadear um golpe de Estado.
Na manhã desta terça-feira (8), o ex-presidente divulgou trecho de seu discurso na Paulista em que tenta provocar um choro para falar "dessas pobres pessoas que estão condenadas a penas de até 17 anos de cadeia".
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 8, 2025
Pesquisas
O recuo também está relacionado a novas pesquisas que mostram que a pauta da anistia é rechaçada pela população brasileira.
Pesquisa Quaest divulgada neste domingo (6), dia do ato na Paulista, mostra que 56% da população acredita que os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro devem continuar presos por mais tempo e cumprirem suas penas. Isto é, a maioria é contra a anistia aos golpistas.
Apenas 18% dizem que os golpistas deveriam ser soltos porque nem deveriam ter sido presos, enquanto outros 16% afirmam que essas pessoas deveriam ser soltas porque já estão presas por muito tempo.
A pesquisa Quaest aponta ainda que cerca de um terço do eleitorado de Bolsonaro (32%) acredita que os golpistas devem continuar presos – ou seja, uma parcela significativa dos próprios bolsonaristas são contra a anistia.
As más notícias para Jair Bolsonaro não param por aí. Segundo a pesquisa Quaest, a maior parte da população (49%) acredita que o ex-presidente participou do planejamento da tentativa de golpe de Estado, enquanto 35% dizem que ele não participou.
O mesmo levantamento aponta ainda que a maioria (52%) considera justo o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado. 36% avaliaram a decisão do STF como injusta.
Datafolha
Nesta terça-feira (8), uma nova pesquisa do Datafolha mostra que 56% dos brasileiros são contra a anistia aos golpistas envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Outros 37% são a favor do perdão, enquanto 6% não souberam responder e 2% se disseram indiferentes.
O estudo ainda aponta que a maioria dos brasileiros defende a prisão de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Segundo o levantamento, 52% dos entrevistados acreditam que o ex-presidente deve ser preso por ter liderado uma trama golpista. Outros 42% são contra a prisão, enquanto 7% não souberam ou não quiseram responder.