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Por Basílio Carneiro: A quinta-feira sertaneja de Cícero e Léo

O passado de 2024 continua indexado no Google, e mancha qualquer plano de reinvenção política.

09/05/2025 às 07h52 Atualizada em 09/05/2025 às 19h46
Por: Redação Fonte: FolhadaPB/BasílioCarneiro
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Foto: Reprodução
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Basílio Carneiro

João Pessoa acordou nesta quinta-feira com um buraco a mais na rua e um gestor a menos no gabinete. O prefeito Cícero Lucena, acompanhado do vice Léo Bezerra, resolveu pegar estrada, não para ver de perto os problemas da capital, mas para prestigiar eventos no longínquo Vale do Piancó. A desculpa? Ações do Orçamento Democrático. A real? Um tour pelo sertão de olho em 2026.

Quem ainda acredita que agendas oficiais em cidades interioranas, cheias de bandeirinhas e microfones, não são ensaios eleitorais, que atire a primeira ficha de gasolina subsidiada. O curioso é que a comitiva deixou a cidade em plena quinta-feira, dia útil, quando se espera que prefeito e vice estejam exatamente onde foram eleitos para estar: governando.

A dança dos isolados
Cícero, que antes se concentrava nos fins de semana para suas aparições públicas longe da cidade, agora resolveu ensaiar passos mais ousados. Afinal, quando se está isolado dentro do próprio partido — o PP, que já corteja Lucas Ribeiro como candidato natural ao governo —, resta ao prefeito criar um novo palco para si, mesmo que para isso precise atravessar o mapa da Paraíba.

O problema é que o eleitor paraibano não tem memória curta, tampouco o Google. A simples menção ao nome Famíla Lucena acompanhado de expressões como “busca e apreensão” ou “organização criminosa” ainda rende páginas e mais páginas de lembranças recentes. A eleição de 2024 em João Pessoa foi um escândalo em série. E, como se sabe, escândalos não somem com passeios no Sertão.

Conservadorismo sob medida
É sempre bom lembrar que João Pessoa carrega um eleitorado conservador. Mas conservadorismo não é sinônimo de cegueira seletiva. Quando a corrupção bate à porta — ou entra pela janela em operação policial — até o mais tradicional dos eleitores pode revisar sua rota moral.

Do outro lado do estado, no entanto, a Paraíba como um todo já deu seu recado em 2022 ao eleger Lula com ampla vantagem. Foi um tapa com luva de silicone nos moralistas seletivos. O povo sabe diferenciar quem fala em nome da ordem e quem, de fato, defende o bem público.

O eleitorado pessoense, muitas vezes conservador, tem mostrado resiliência diante das contradições morais e políticas. Porém, a Paraíba como um todo já demonstrou, em 2022, que sabe distinguir conservadorismo de conivência com corrupção. A vitória de Lula no estado foi um recado claro: há um limite para tolerância com escândalos e retrocessos.

Cícero fora da cidade, João Pessoa fora dos trilhos
Enquanto o prefeito curte sua quinta-feira sertaneja, a capital segue com filas nos postos, ruas esburacadas e uma sensação crescente de abandono. É o custo da política de vaidade disfarçada de participação popular.

No fundo, o que a população quer mesmo é um gestor que governe, não um peregrino de palanque.

A dúvida que fica é: quem cuida de João Pessoa quando os seus governantes fazem turismo político?

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