Em política, os gestos dizem mais do que os discursos. E quando se trata da relação entre presidentes e a Polícia Federal, o contraste entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva é gritante e revelador.
Durante o governo Bolsonaro, o que se viu foi uma PF acuada, aparelhada e frequentemente remanejada. Bastava uma investigação se aproximar dos filhos do presidente, como o caso das "rachadinhas" envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, ou bater à porta de aliados do gabinete do ódio, que o comando da instituição mudava.
O ex-diretor geral da PF, Maurício Valeixo, por exemplo, foi demitido numa canetada que resultou no pedido de demissão de Sergio Moro, então ministro da Justiça. Moro, aliás, saiu acusando o presidente de tentar interferir diretamente em investigações. Um escândalo atrás do outro, tudo para proteger os seus.
Inclusive em casos que respingam no próprio governo. A Lava Jato, que já lhe foi adversária, não o assusta mais. A lógica parece simples, quase banal: quem não deve, não teme.
Claro, há quem critique Lula por outros motivos. Mas é impossível ignorar o respeito institucional que tem demonstrado, especialmente no trato com órgãos de investigação. Não há telefonema mandando segurar operação. Não há troca de comando a cada incômodo. E isso, num país onde a tentação autoritária é constante, importa e muito.
No fim das contas, o modo como um presidente lida com a PF diz mais sobre seu caráter do que qualquer discurso em rede nacional. Bolsonaro quis uma polícia de estimação. Lula, até aqui, prefere uma polícia que trabalhe.
A diferença entre os dois é abissal. E o Brasil, quando tem memória, sabe reconhecer.