O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nesta terça-feira (3) os vídeos dos depoimentos no processo sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022. Entre os relatos mais importantes está o do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, que detalhou as pressões sofridas por se recusar a participar de articulações golpistas lideradas pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um dos momentos mais graves descritos por Baptista Júnior ocorreu em uma reunião no Palácio da Alvorada, logo após o segundo turno das eleições. Segundo ele, foram discutidas medidas extremas, como a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa e estado de sítio — todas com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O brigadeiro afirmou que o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, apresentou uma minuta de decreto que previa a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Eu falei: ‘Esse documento prevê a não assunção, no dia 1º de janeiro, do presidente eleito?’ E ele falou: ‘Sim’. E aí eu falei: ‘Não admito sequer receber este documento, não ficarei aqui’. Levantei, saí da sala e fui embora”, contou.
Ex-comandante da Aeronáutica sobre minuta do golpe: ‘Levantei, saí da sala e fui embora’. Gravação do depoimento de Baptista Jr. sobre tentativa de golpe se tornou pública nesta terça (3) por decisão do ministro Alexandre de Moraes. #Estúdioi
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Baptista Júnior também afirmou ter sido alvo de pressões de aliados próximos a Bolsonaro, incluindo o então ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, e o empresário Paulo Figueiredo, para consentir a seguir com a trama. “Fui pressionado pelo ministro Braga Netto. Sofri ataques de pessoas ligadas ao ex-presidente Bolsonaro”, declarou.
O brigadeiro ainda relatou perseguições e ofensas em redes sociais, onde até hoje é chamado de “traidor” e “melancia”, termo usado por bolsonaristas para se referir a militares que consideram alinhados ao PT.
Baptista Júnior confirmou o relato de que o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, teria ameaçado prender Bolsonaro caso o plano golpista fosse adiante.
“O general Freire Gomes é uma pessoa polida, educada. Logicamente ele não falou essa parte com agressividade com o presidente da República, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, com muita calma, mas colocou exatamente isso: ‘Se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo'”, disse.
O ex-comandante da Aeronáutica também deixou claro a Bolsonaro que sua permanência no cargo era impossível: “Eu falei com o presidente Bolsonaro: aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro o senhor não será presidente”.
VÍDEO: ex-comandante da Aeronáutica relata ataques na internet por não querer golpe. Baptista Jr. prestou depoimento ao STF como testemunha.
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