Por Basílio Carneiro
Não parou por aí: relativizou os crimes e violações da ditadura militar, elogiou o modelo de segurança de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, e ainda referendou as políticas ultraliberais de Javier Milei, na Argentina. Na mesma toada, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também prometeu: se for eleito, indultaria Bolsonaro.
Mas calma lá. Eles estão mentindo.
O indulto não se aplica nesse caso
O indulto presidencial é um instrumento jurídico previsto na Constituição, mas que só se aplica a condenações criminais transitadas em julgado, ou seja, com decisão definitiva, sem possibilidade de recurso. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) já deixou claro, em precedentes recentes, que o indulto não pode ser usado para perdoar crimes contra o Estado Democrático de Direito, como o golpe de 8 de janeiro.
O caso de Bolsonaro não é uma simples condenação criminal: trata-se de um político declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, por ter atentado contra o sistema democrático e a lisura das eleições. A inelegibilidade não se anula com indulto — é uma sanção civil-eleitoral, fora do alcance do perdão presidencial.
Além disso, mesmo que Bolsonaro venha a ser condenado criminalmente pelos processos que responde (como no caso das joias, da fraude nos cartões de vacina ou pela tentativa golpista), qualquer indulto só poderia ser concedido após o trânsito em julgado, o que não deve ocorrer antes de 2026.
Zema e Tarcísio disputam o espólio do bolsonarismo
O que está em curso é uma disputa aberta pela herança política do bolsonarismo. Sem rumo desde a inelegibilidade de Bolsonaro, a base mais radical da direita brasileira se vê órfã. É esse público que Zema e Tarcísio tentam seduzir, prometendo bravatas impossíveis, relativizando a ditadura militar e elogiando líderes autoritários mundo afora.
Zema quer mostrar que pode ser o "Bolsonaro das Gerais", mas com fala mansa e sotaque mineiro. Tarcísio, por sua vez, quer mostrar que pode ser o sucessor natural, com aval simbólico do próprio Bolsonaro, enquanto governa São Paulo com discurso de eficiência e segurança.
Ambos sabem que o bolsonarismo ainda é uma força política robusta — mas também sabem que, para mantê-la coesa, precisam vender uma ilusão: a de que Bolsonaro ainda pode escapar, voltar ou ser perdoado. Não pode.
Mentiras que alimentam a extrema direita
A promessa de indulto é, portanto, uma mentira política, criada para enganar a base bolsonarista e mantê-la mobilizada para 2026. Mais do que isso: ao relativizar a ditadura e elogiar regimes autoritários, Zema e Tarcísio sinalizam que não têm compromisso real com a democracia. Querem o poder, custe o que custar, mesmo que seja à base da mentira.
O bolsonarismo está sem rumo, mas a democracia brasileira precisa estar atenta: as estratégias autoritárias continuam sendo reproduzidas, agora com outros rostos e sotaques.