A esquerda brasileira sofre de um mal antigo, mas com roupagem nova: o prurido de parecer moderna. Tem vergonha de parecer popular demais, de falar a língua do povo, de descer do palanque acadêmico e se misturar com quem realmente importa.
Acha que basta marcar uma reunião. Ou melhor, fazer uma reunião pra marcar outra. Tudo muito organizado, muito teórico, muito bem-intencionado... e completamente ineficaz.
Enquanto isso, os evangélicos evangelizam – com estratégia e algoritmo
Enquanto a esquerda debate no Zoom, o bolsonarismo já fez meme, cultinho online, vídeo de TikTok e grupo de WhatsApp com mensagem pronta.
Os evangélicos entenderam antes de todo mundo que comunicação não é sobre estar certo, é sobre ser ouvido. E eles foram. E continuam sendo. Se a esquerda não fizer o mesmo, com propósito, com ética, com clareza, , vai continuar pregando pra convertidos num templo vazio.
Não é preciso imitar o inimigo, mas é urgente disputar o campo onde ele se fortalece. A linguagem tem que ser simples. A mensagem, direta. A tecnologia, aliada. O povo quer ser ouvido, não doutrinado.
A extrema direita entorpece com discursos de costume, moralismo barato e promessas de ordem. É um conto do vigário moderno, vendido com filtro de Instagram. Mas funciona. Funciona porque é mastigado. Porque fala ao coração. Porque parece resposta, mesmo sendo só engodo.
É assim que Trump se tornou fenômeno mundial. O problema nunca é só o discurso, é quem consegue fazê-lo chegar antes.
A esquerda precisa parar de se apaixonar pelas próprias palavras e começar a apaixonar os outros pela ideia de justiça, igualdade e solidariedade. Isso só se faz quando se fala a língua do povo. Se não fizer, alguém com intenções bem piores vai continuar falando por ela.
E vai ser tarde demais.