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“Não lembro, não sei”: A estratégia do esquecimento de Bolsonaro na justiça; Por Basílio Carneiro

Na audiência como réu, Bolsonaro adota tom moderado, mas escorrega em contradições e transforma sessão judicial em discurso político.

10/06/2025 às 16h35 Atualizada em 11/06/2025 às 11h10
Por: Redação Fonte: FolhadaPB/BasílioCarneiro
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Foto: Reprodução
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Por Basílio Carneiro

Era para ser um dia de ajuste de contas com a Justiça, mas virou mais uma performance do personagem que Jair Bolsonaro vem lapidando com afinco: o do perseguido que ri no banco dos réus. Lá estava ele, o ex-presidente, cercado de advogados e blindado por uma retórica ensaiada, distribuindo sorrisos, recusando lembranças e oferecendo desculpas. Um espetáculo para alguns, de cinismo; para outros, de estratégia.

Não lembro, não sei, não vi
Na sessão em que deveria explicar por que uma minuta golpista estava em sua casa, Bolsonaro preferiu se esconder na cortina do "não sei", "não li", "não lembro". Disse que deu apenas uma "olhadinha" no documento.  Negou que houvesse qualquer menção a prisões de ministros ou parlamentares, algo que a própria minuta contradiz, ali, preto no branco.

O novo tom: desculpas e reverência
Em um giro dramático, pediu desculpas aos ministros do Supremo. Justificou-se como um bom moço que "exagerou um pouquinho", mas que nunca teve intenção de ferir as instituições. Um Bolsonaro manso, domesticado. O mesmo que, dias atrás, ainda provocava o sistema eleitoral, agora jurava de pés juntos que jamais atacou as urnas eletrônicas. Parece que a memória do ex-presidente sofre de uma forma muito específica de amnésia: só esquece aquilo que o compromete.

Ex-presidente nega ter lido minuta golpista, pede desculpas aos ministros e diz que nunca atacou as urnas. Mas ri ao lembrar dos R$ 17 milhões recebidos via PIX.
Disse que, sem o afago financeiro dos fiéis seguidores, estaria em apuros. Foi como se admitisse, entre risos, que o bolsonarismo virou um negócio  lucrativo e sustentado pela devoção dos que ainda acreditam nele.

Quando acuado, Bolsonaro se fez de comentarista. Respondeu perguntas com avaliações políticas do seu governo, exaltou feitos, criticou sucessores. Saiu do papel de réu e vestiu o de candidato, como quem transforma uma audiência em palanque. 

No fim das contas, não tivemos confissão nem confronto. Apenas mais um ato da encenação. O réu saiu como entrou: envolto em contradições, protegido pelo manto da desmemória e ancorado pela fé inabalável dos seus. De réu a santo ou quase isso  no festival de mentira que insiste em se apresentar como verdade.

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