Por Basílio Carneiro
Tem um roteiro rodando por aí. Não é filme, mas tem todo o enredo de uma produção de suspense barato: "Lula em queda nas pesquisas", "Tarcísio salvador da extrema-direita", "indulto para Bolsonaro". Tudo amarrado, tudo muito bem produzido. E tudo muito mal-intencionado.
Já escrevi antes (e deixo aqui os links no final pra quem quiser reler) sobre essa estratégia de criar uma percepção artificial de que Lula está derretendo. É aquela velha máxima da propaganda: repita uma mentira mil vezes e ela vira uma verdade. Agora eles estão na fase 2 do roteiro: criar um clima de "terror eleitoral" pra 2026.
A Globo já escolheu o candidato?
A mais nova invenção é essa história de que só Tarcísio teria coragem – ou disposição – pra conceder um indulto a Bolsonaro. Não foi o Zema, não foi o Nicolas Ferreira, não foi o Carluxo… Quem levantou a bola agora foi a Globo. Sim, ela mesma. Na maior cara de pau, sugerindo que o indulto presidencial poderia salvar o ex-presidente da inelegibilidade.
Mas vamos aos fatos, porque alguém aqui precisa fazer esse serviço público de separar narrativa de realidade.
Indulto pra inelegibilidade?
Indulto é coisa séria. Está previsto na Constituição e tem regras claras. Primeiro: só pode ser concedido a quem foi condenado criminalmente, com sentença definitiva, sem chance de recurso – o famoso "trânsito em julgado". Segundo: o Supremo Tribunal Federal já deixou explícito, em decisões recentes, que o indulto não pode ser usado para perdoar crimes contra o Estado Democrático de Direito. O golpe de 8 de janeiro, por exemplo, entra exatamente nessa categoria.
Agora vamos ao detalhe mais importante: Bolsonaro não está inelegível por conta de uma condenação criminal. O problema dele é civil-eleitoral. Ele foi declarado inelegível pela Justiça Eleitoral por atentar contra a democracia e as eleições. Indulto presidencial não alcança isso. Não tem jeitinho, não tem atalho, não tem perdão que dê jeito.
E mesmo que ele venha a ser condenado criminalmente nos outros processos (joias sauditas, fraude em cartão de vacina, tentativa de golpe), o indulto só poderia ser cogitado depois do trânsito em julgado – o que, realisticamente, não vai acontecer antes de 2026.
O truque é simples: criar pânico eleitoral
Essa narrativa do "indulto salvador" é apenas mais uma peça no tabuleiro. O objetivo é criar medo em parte do eleitorado, estimular a extrema-direita a se unir cedo em torno de um nome (no caso, Tarcísio), e empurrar a opinião pública pra um falso dilema: "ou elegemos alguém que perdoe Bolsonaro, ou o caos vai se instalar".
Enquanto isso, Lula segue governando. Com dificuldades? Claro. O Congresso é hostil, o Centrão custa caro e o bolsonarismo não dá trégua nem um dia. Mas o país está rodando. O PIB cresce mais que o previsto, a inflação está controlada, o emprego dá sinais de recuperação, e a popularidade de Lula, ao contrário do que essas pesquisas suspeitas tentam vender, ainda é maior do que muita gente gostaria de admitir.
Essa história de indulto pra Bolsonaro é fake news. Pura e simples. Usada agora pra inflar um candidato que a mídia já escolheu como seu "anti-Lula" de 2026.
Quer saber como a gente desmonta isso? Informação. Memória. E, claro, voto consciente quando chegar a hora.
Uma coluna da jornalista Malu Gaspar, publicada nesta segunda-feira (16) no jornal O Globo, revela os bastidores de uma articulação política importante: a tentativa das elites de convencer Jair Bolsonaro a desistir da eleição presidencial de 2026 e transferir seu apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O motivo? Caso Bolsonaro seja condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por sua participação na tentativa de golpe de Estado, Tarcísio, como presidente da República, seria a pessoa com condições políticas e institucionais de conceder um indulto (perdão judicial) ao ex-presidente.
Segundo a coluna, Bolsonaro já conversa com aliados sobre a possibilidade real de não disputar a eleição. Em troca, ele faz uma exigência: só apoiará alguém que assuma o compromisso formal de garantir o indulto, se for necessário. O próprio senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, reforçou essa condição em entrevista à Folha de S. Paulo: quem quiser o apoio de Bolsonaro, terá que se comprometer publicamente com o indulto.
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